Fazendo História

Primeira Estação:

Convido a todos fazer parte deste passeio pela Vida, já que para fazer história é preciso ter passado pela vida e deixado sua marca. Assim, desde filósofos, políticos e mártires até escravos, indígenas e o tocador de tuba no coreto fazem parte desta viagem que quer retratar a cultura costurada durante o tempo dos Homens.
Aproveitem da viagem!

sábado, 17 de julho de 2010

Ensaio sobre a Africa







Ensaio sobre a História da África

Este ensaio reúne excertos de textos sobre a África, como forma de abranger o histórico de seus povos, além do processo de dominação européia e o difícil trabalho de promover sua reestruturação. Também destacamos dados da contribuição dos negros nas esferas culturais do Brasil.

O saber ocidental racionalista e cientifico, promulgado desde o sec. XVIII constrói uma nova consciência planetária constituída por visões de mundo, auto-imagens e estereótipos que compõem um "olhar imperial" sobre o universo. Assim, o conjunto de escrituras sobre a África, em particular entre as ultimas décadas dos sec. XIX e XX, contem equívocos, pré-noções e preconceitos decorrentes, em grande parte das lacunas do conhecimento quando não do próprio desconhecimento sobre o referido continente.

Os estudos sobre este mundo não ocidental foram, antes de tudo, instrumentos de política nacional, contribuindo de modo mais ou menos direto para uma rede de interesses político-econômicos que ligavam as grandes empresas comerciais, as missões, as áreas de relações exteriores e do mundo acadêmico.

Assim sendo, o termo africano ganha um significado preciso: negro, ao qual se atribui um amplo espectro de significações negativas tais como frouxo, fleumático (a vida para ele é feliz e descompromissada), indolente e incapaz, todas elas convergindo para uma imagem de inferioridade e primitivismo.

Quanto às diferenças, são tratadas segundo um modelo de organização social e política, bem como de padrões culturais, próprios da civilização européia. Em outros termos: aproximando por analogia o desconhecido ao conhecido considera-se que a África não tem povo, não tem nação e nem Estado; não tem passado, logo não tem Historia.

Conforme o discurso instituído, teria havido uma cisão em tempos remotos entre uma África branca com características mais próximas das ocidentais, mediterrâneas e uma África negra que se ignoravam mutuamente porque, separadas pelo deserto do Saara, ficavam impedidas de qualquer comunicação. Afirmações desde o principio equivocadas.

Charles Linné classifica o Homo Sapiens em 5 variedades:

a) Homem selvagem - Quadrúpede, mudo, peludo.

b) Americano - Cor de cobre, colérico, ereto. Cabelo negro, liso, espesso, narinas largas, semblante rude, barba rala, obstinado, alegre, livre. Pinta-se com finas linhas vermelhas. Guia-se por costumes.

c) Europeu - Claro, sanguíneo, musculoso, cabelo louro, castanho, ondulado, olhos azuis, delicado, perspicaz, inventivo. Coberto por vestes justas. Governado por leis.

d) Asiático. Escuro, melancólico, rígido, cabelos negros, olhos escuros, severo, orgulhoso, cobiçoso. Coberto por vestimentas soltas. Governado por opiniões.

e)Africano. Negro, fleumático, relaxado. Cabelos negros, crespos, pele acetinada, nariz achatado, lábios túmidos, engenhoso, indolente, negligente. Unta-se com gordura. Governado pelo capricho.

Neste momento, a historia se restringia aos espaços geográficos que tinham como elemento de união o mar Mediterrâneo, promotor da civilização. Estavam ligados ao "coração do mundo antigo" o sul da Europa, o sudoeste da Ásia, a África setentrional (Marrocos, Fez, Argel, Tunis, Trípoli) e o Egito. Em síntese o mar Mediterrâneo é o elemento de união destas três partes do mundo.

Dizia Hegel : " A Europa é a parte do mundo do espírito, do espírito unido em si mesmo, e que tem se dedicado à realização e conexão infinita da cultura. A Ásia, é o país dos contrastes, um dos lados é a moralidade, o ser racional universal, o outro lado é a oposição espiritual, o egoísmo, o ilimitado dos apetites e a desmedida extensão da liberdade".

Em relação a África: "Encontramos, [...], aqui o homem em seu estado bruto. Tal é o homem na África. Porquanto o homem aparece como homem, põe-se em oposição à natureza; assim é como se faz homem. Mas porquanto se limita a diferenciar-se da natureza, encontra-se no primeiro estágio, dominado pela paixão, pelo orgulho e a pobreza; é um homem estúpido. No estado de selvageria achamos o africano, enquanto podemos observá-lo e assim tem permanecido. O negro representa o homem natural em toda a sua barbárie e violência; para compreendê-lo devemos esquecer todas as representações européias. Devemos esquecer Deus e a lei moral. Para compreendê-lo exatamente, devemos abstrair de todo o respeito e moralidade, de todo o sentimento. tudo isso está no homem em seu estado bruto, em cujo caráter nada se encontra que pareça humano." "Filosofia de la historia universal."

A África subsaariana é identificada por um conjunto de imagens que resulta em um todo indiferenciado, exótico, primitivo, dominado, regido pelo caos e geograficamente impenetrável.

A historia da África para os europeus começava a partir de sua dominação quando o negro, marcado pela pigmentação da pele, transformado em mercadoria e destinado a diversas formas compulsórias de trabalho, também foi símbolo de uma essência racial imaginaria, ilusoriamente inferior.

Só em meados do sec. XX, pouco a pouco os historiadores e antropólogos reconheceram a África sob um tratamento critico, abrindo possibilidades para que os preconceitos pudessem ser questionados.

Foi somente a partir de 1960 reconhecida a valorização ao se identificar as especificidades históricas de um continente que é um verdadeiro mosaico de heterogeneidades, uma totalidade caracterizada pela complexa diversidade cultural de seus povos.

Neste sentido podemos destacar na África subsaariana a questão histórica do Império Mali, desde sua fundação em 1235 ate sua decadência no sec. XV. E também o Império Zulu ao sul da África.

Para o estudo da África anterior ao domínio europeu, foi necessários localizar registros em particular da arqueologia e da historia oral, uma vez que as fontes careciam de ser exploradas.

A tradição oral é encontrada, sobretudo nos meios rurais, mas também nos urbanos, no âmbito da vida social. Tem como seu principal grupo de expressão os "guardiões da palavra falada", responsáveis por transmiti-la de geração em geração. Vale registrar que os que detêm o conhecimento da palavra falada por revelação divina são denominados tradicionalistas e transmitem-no com fidelidade, uma vez que a palavra tem um caráter sagrado derivado de sua origem divina e das forças nela depositadas.

Significa dizer que a fala tem uma relação direta com a harmonia do homem consigo mesmo e com o mundo que o cerca. Assim a mentira é execrada, pois "aquele que corrompe a palavra corrompe a si próprio".

A tradição oral explica a unidade cósmica, apresentando uma concepção de homem, do seu papel e do seu lugar no mundo, seja ele mineral, vegetal, animal, ou mesmo a sociedade humana. Os tradicionalistas são reconhecidos como possuidores do conhecimento total da tradição, isto é, os guardiões dos segredos relativos a gênese do cosmos e das ciências da vida, ao mesmo tempo fazedores de conhecimento que integram um grupo amplo no qual fazem parte os mestres iniciados que, por sua vez são iniciadores de indivíduos nos ofícios tradicionais como ferreiros, tecelões, sapateiros, caçadores e pescadores, entre outros.

A passagem deste saber, acompanhada de cantos rituais, gestual ritmado e palavras cantadas sacramentais, prende-se ao mistério da gênese da criação, ligada ao poder da palavra.

Outro elemento importante nesta sociedade são os Griots: são os trovadores menestréis, contadores de historias e animadores públicos para os quais a disciplina da verdade perde a rigidez, sendo-lhe facultada uma linguagem mais livre. "Sua função é também o desenvolvimento extraordinário de estruturas de mediação que estabelecem a comunicação numa sociedade onde as relações sociais parecem todas marcadas por considerações de hierarquia autoridade, etiqueta, deferência e reverencia.

Muitas vezes respaldados pela musica e valendo-se da coreografia contam coisas antigas, cantando grandes realizações dos "bravos e justos", celebrando o heroísmo e a salvaguarda da honra. Em contrapartida, evocam o desprezo pelo medo da morte e denunciam os desonestos e os ladrões, revelando aos nobres os exemplos a serem seguidos ou repudiados.

São tecidos assim, os mundos africanos com palavras e silencio, garantindo o não-esquecimento das glorias da tradição.

Aos poucos foram postos em xeque os estudos que buscavam estabelecer uma correspondência da cultura africana com a cultura ocidental. O eurocentrismo tornou-se sinônimo de sectarismo. Descartamos então a existência de uma África subsaariana definida como um todo homogêneo, indiviso e estático, marcado pelo primitivismo.

Seguindo os itinerários dos principais produtos africanos, pode-se constatar a complexidade e o dinamismo das relações comerciais e culturais de diferentes regiões do continente.

Uma das mercadorias que integram os intercâmbios comerciais nas principais rotas transaarianas é a população negra feita escrava.

Mas quais mecanismos levaram a escravidão nas sociedades pré-coloniais africanas? Em termos gerais é sabido que o fornecimento de cativos provinha basicamente das guerras internas decorrentes das próprias estruturas econômicas de cada região, as quais remontam a Antiguidade tendo crescido com a expansão islâmica e com a demanda ao longo do Mediterrâneo. O segundo mecanismo que levava a escravidão era a fome que, desestruturando uma sociedade, impelia os destituídos a vender a si mesmos ou seus filhos como meio de sobrevivência. O terceiro caso era resultado de uma punição judicial por algum crime ou como uma espécie de garantia para o pagamento de debito.

O butim humano era dividido em duas categorias: os homens eram destinados ao trafico europeu, enquanto as mulheres e os jovens ao trafico interno para a utilização agrícola e domestica.

Mas a economia também se beneficiou de outros produtos, como o sal, o ouro, a prata e o cobre. Os comerciantes árabes beneficiaram-se do comercio lucrativo de minério de ferro, objetos de luxo, marfim, escravos e ouro.

Foi com o desempenho de missionários e exploradores que o continente começou a ser rasgado com o ideal etnocêntrico de regeneração da África e a fim de "salvar a alma dos selvagens".

Nas escolas e nos livros, costumamos estudar apenas a história de um povo africano: os egípcios. Porém, na mesma época em que o povo egípcio desenvolvia sua civilização, outros povos africanos faziam sua história. Conheceremos abaixo alguns destes povos e suas principais características culturais.

O povo Bérbere - Os bérberes eram povos nômades do deserto do Saara. Este povo enfrentava as tempestades de areia e a falta de água, para atravessar com suas caravanas este território, fazendo comércio. Costumavam comercializar diversos produtos, tais como: objetos de ouro e cobre, sal, artesanato, temperos, vidro, plumas, pedras preciosas etc.

Costumavam parar nos oásis para obter água, sombra e descansar. Utilizavam o camelo como principal meio de transporte, graças a resistência deste animal e de sua adaptação ao meio desértico.

Durante as viagens, os bérberes levavam e traziam informações e aspectos culturais. Logo, eles foram de extrema importância para a troca cultural que ocorreu no norte do continente.

Os bantos Este povo habitava o noroeste do continente, onde atualmente são os países Nigéria, Mali, Mauritânia e Camarões. Ao contrário dos bérberes, os bantos eram agricultores. Viviam também da caça e da pesca.

Conheciam a metalurgia, fato que deu grande vantagem a este povo na conquista de povos vizinhos. Chegaram a formar um grande reino ( reino do Congo ) que dominava grande parte do noroeste do continente.

Viviam em aldeias que era comandada por um chefe. O rei banto, também conhecido como manicongo, cobrava impostos em forma de mercadorias e alimentos de todas as tribos que formavam seu reino.

O manicongo gastava parte do que arrecadava com os impostos para manter um exército particular, que garantia sua proteção, e funcionários reais. Os habitantes do reino acreditavam que o maniconco possuía poderes sagrados e que influenciava nas colheitas, guerras e saúde do povo.

Os soninkés e o Império de Gana
Os soninkés habitavam a região ao sul do deserto do Saara. Este povo estava organizado em tribos que constituíam um grande império. Este império era comandado por reis conhecidos como caia-maga.

Viviam da criação de animais, da agricultura e da pesca. Habitavam uma região com grandes reservas de ouro. Extraíam o ouro para trocar por outros produtos com os povos do deserto (bérberes). A região de Gana, tornou-se com o tempo, uma área de intenso comércio.

Os habitantes do império deviam pagar impostos para a nobreza, que era formada pelo caia-maga, seus parentes e amigos. Um exército poderoso fazia a proteção das terras e do comércio que era praticado na região. Além de pagar impostos, as aldeias deviam contribuir com soldados e lavradores, que trabalhavam nas terras da nobreza.

A partilha da África

A partir do momento que o continente africano não podia mais fornecer escravos, o interesse das potências colônias inclinou-se para a sua ocupação territorial. E isso deu-se por dois motivos, O primeiro deles é que ambicionavam explorar as riquezas africanas, minerais e agrícolas, existentes no hinterland, até então só parcialmente conhecidas. O segundo deveu-se à competição imperialista cada vez maior entre elas, especialmente após a celebração da unificação da Alemanha, ocorrida em 1871. Por vezes chegou-se a ocupar extensas regiões desérticas, como a França o fez no Saara (chamando-a de França equatorial), apenas para não deixa-las para o adversário.

Antes da África ser dominada por funcionários metropolitanos, a região toda havia sido dividida entre várias companhias privadas que tinham concessões de exploração. Assim a Guiné estava entregue a uma companhia escravista francesa. O Congo, por sua vez, era privativo da Companhia para o Comércio e Industria, fundada em 1889, que dividia-o com a companhia Anversoise, de 1892 .O Alto Níger era controlado pela Companhia Real do Níger, dos britânicos. A África Oriental estava dividida entre uma companhia alemã, dirigida por Karl Peters, e uma inglesa, comandada pelo escocês W.Mackinnon. Cecil Rhodes era o chefe da companhia sul-africana que explorou a atual Zâmbia e Zimbawe, enquanto o rei Leopoldo II da Bélgica autorizava a companhia de Katanga a explorar o cobre do Congo belga.

O Congresso de Berlim

Atendendo ao convite do chanceler do II Reich alemão, Otto von Bismarck, 12 países com interesse na África encontraram-se em Berlim - entre novembro de 1884 a fevereiro de 1885 -, para a realização de um congresso. O objetivo de Bismarck é que os demais reconhecessem a Alemanha como uma potência com interesses em manter certas regiões africanas como protetorados. Além disso acertou-se que o Congo seria propriedade do rei Leopoldo II da Bélgica (responsável indireto por um dos mais terríveis genocídios de africanos), convertido porém em zona franca comercial. Tanto a Alemanha, como a França e a Inglaterra combinaram reconhecimentos mútuos e acertaram os limites das suas respectivas áreas. O congresso de Berlim deu enorme impulso à expansão colonial, sendo complementado posteriormente por acordos bilaterais entre as partes envolvidas, tais como Convênio franco-britânico de 1889-90, e o Tratado anglo-germânico de Heligoland, de 1890. Até 1914 a África encontrou-se inteiramente divida entre os principais países europeus (Inglaterra, França, Espanha, Itália, Bélgica, Portugal e Alemanha). Com a derrota alemã de 1918, e obedecendo ao Tratado de Versalhes de 1919, as antigas colônias alemãs passaram à tutela da Inglaterra e da França. Também, a partir desse tratado, as potências comprometeram-se a administrar seus protetorados de acordo com os interesses dos nativos africanos e não mais com os das companhias metropolitanas. Naturalmente que isso ficou apenas como uma afirmação retórica.

A reação dos africanos

A conquista da África foi entremeada de tenaz resistência nativa. A mais célebre delas foram as Guerras Zulus, travadas no século 19 pelo rei Chaka (que reinou de 1818 a 1828) na África do Sul, contra os ingleses e os colonos brancos boers. Entrementes, os colonizadores começaram a combater as endemias e doenças tropicais que dificultavam a vida dos europeus através do saneamento e da difusão da higiene. A África era temida pelas doenças tropicais: a febre amarela, a malária e a doença do sono, bem como da lepra. O continente, igualmente, ocupado por missões religiosas, tanto católicas como protestantes. Junto com o funcionário colonial, o aventureiro, o fazendeiro, e o garimpeiro branco, afirmou-se lá, em caráter permanente, o padre ou o pastor pregando o evangelho.

Essa ocupação escancarada provocava amargura entre os africanos que se sentiam inferiorizados e impotentes perante a capacidade administrativa, militar e tecnológica, do colonialista europeu. Já na metade do século 19, o afro-americano Edward W. Blyden, que emigrara para a Libéria em 1850, descontente com a perda da auto-estima dos negros, proclamava a existência de uma “personalidade africana” com méritos e valores próprios, contraposta a dos brancos. E, imitando James Monroe, lançou o slogan “África para os africanos!”.

Em 1919 reuniu-se em Paris, o 1º Congresso Pan-africano, organizado pelo intelectual afro-americano W.E.B. Du Bois. Reivindicou ele um Código Internacional que garantisse, na África tropical, o direito dos nativos, bem como um plano gradual que conduzisse à emancipação final das colônias. Conquanto que, para os negros americanos, era solicitado a aplicação dos direitos civis (que só foram finalmente aprovados pelo congresso dos E.U.A. em 1964!).

O último congresso Pan-africano, o 5º, reuniu-se em Manchester, na Inglaterra, em 15-18 de outubro de 1945, tendo a presença de Du Bois, Kwane Nkurmah, futuro emancipador da Ghana, e Jomo Kenyatta, o líder da Quênia. Trataram de aclamar a necessidade da formação de movimentos nacionalistas de massas para obterem a independência da África o mais rápido possível.

A descolonização

A descolonização tornou-se possível no após-1945 devido a exaustão em que as antigas potências coloniais se encontraram ao terem-se dilacerado em seis anos de guerra mundial, de 1939 a 1945. Algumas delas, como a Holanda, a Bélgica e a França, foram ocupados pelos nazistas, o que acelerou ainda mais a decomposição dos seus impérios no Terceiro Mundo. A guerra também as fragilizou ideologicamente: como podiam elas manter que a guerra contra Hitler era uma luta universal pela liberdade contra a opressão se mantinham em estatuto colonial milhões de asiáticos e africanos?

A
Segunda Guerra Mundial se debilitou a mão do opressor colonial, excitou o nacionalismo dos nativos do Terceiro Mundo. Os povos asiáticos e africanos foram assaltados pela impaciência com sua situação jurídica de inferioridade, considerando cada vez mais intolerável o domínio estrangeiro. Os europeus, por outro lado, foram tomados por sentimentos contraditórios de culpa por manterem-nos explorados e sob sua tutela, resultado da influencia das idéias filantrópicas, liberais e socialistas, que remontavam ao século 18. Haviam perdido, depois de terem provocado duas guerras mundiais, toda a superioridade moral que, segundo eles, justificava seu domínio.
Quem por primeiro conseguiu a independência foram os povos da Ásia (começando pela
Índia e Paquistão, em 1946). A maré da independência atingiu a África somente em 1956. O primeiro pais do Continente Negro a conseguí-la foi Ghana, em 1957. Em geral podemos separar o processo de descolonização africano em dois tipos. Aquelas regiões que não tinham nenhum produto estratégico (cobre, ouro, diamantes ou petróleo) conseguiram facilmente sua autonomia, obtendo-a por meio da negociação pacífica. E, ao contrário, as que tinham um daqueles produtos, considerados estratégicos pela metrópole, explorados por grandes corporações, a situação foi diferente (caso do petróleo na Argélia e do cobre no Congo belga). Neles os colonialistas resistiram aos movimentos autonomistas, ocorrendo movimentos de guerrilhas para expulsá-los.

Os partidos e movimentos africanos

Apesar da existência de 800 etnias e mais de mil idiomas falados na África, podemos encontrar alguns denominadores comuns entre os partidos e movimentos que lutaram pela descolonização. O primeiro deles é de que todos eles ambicionavam a independência, conquistada tanto pela vertente de radicalismo revolucionário ou através do reformismo moderado, que tanto podia implantar uma republica federativa como uma unitária.
Em geral, os partidos optaram pelo centralismo devido a dificuldade em obter consenso entre tribos rivais. Esse centralismo é geralmente assumido pelo próprio líder da emancipação, (como Nkrumah em Ghana) pelo partido único (ou “partido dominante” como definiu-o Leopold Senghor, do Senegal) ou ainda, por um ditador militar (como Idi Amin Dada em Uganda, ou Sese Seko Mobuto no Zaire). A negritude (movimento encabeçado por Aimé Césaire, um poeta martinicano, e pelo presidente senegalês Leopold Senghor) foi também um ponto em comum, marcadamente entre os países afro-francofônicos, que exaltavam as qualidades metafísicas dos africanos. Finalmente todos manifestavam-se a favor do pan-africanismo como uma aspiração de formar governos “por africanos e para africanos, respeitando as minorias raciais e religiosas”.

Dificuldades africanas

Na medida em que em toda a história da África anterior ao domínio europeu, desconhecia-se a existência de estados-nacionais, segundo a concepção clássica (unidade, homogeneidade e delimitação de território), entende-se a enorme dificuldade encontrada pelas elites africanas em constituí-los em seus países. Existiam anteriormente na África, impérios, dinastias governantes, milhares de pequenos chefes e régulos tribais, mas em nenhuma parte encontrou-se estados-nacionais. O que havia era uma intensa atomização política e social, um facciosismo crônico, resultado da existência de uma infinidade de etnias, de tribos, quase todas inimigas entre si, de grupos lingüísticos diferentes (só no Zaire existem mais de 40), e de incontáveis castas profissionais. O fim da Pax Colonialis, seguida da independência, provocou, em muitos casos, o afloramento de antigos ódios tribais, de velha rivalidades despertadas pela proclamação da independência, provocando violentas guerras civis (como as da Nigéria, do Congo e, mais recentemente, as da Angola, Moçambique, Ruanda, Burundi, Serra Leoa e da Libéria).
Essas lutas geraram uma crônica instabilidade em grande parte do Continente que contribuiu para afastar os investimentos necessários ao seu progresso. Hoje a África, com exceção da África do Sul, Nigéria e o Quênia, encontra-se praticamente abandonada pelos interesse internacionais. Os demais parecem ter mergulhado numa interminável guerra tribal, provocando milhões de foragidos (na África estão 50 % dos refugiados do globo) e um número incalculado de mortos e feridos. É certamente a parte do mundo onde mais guerras são travadas. Como um incêndio na floresta, encerra-se a luta numa região para logo em seguida arder uma mais trágica ainda logo adiante.
De certa forma todos os povos pagam pelos seus defeitos culturais. Neste sentido o arraigado tribalismo africano é o grande impedimento para concretizar a formação de um estado-nacional estável. Enquanto as massas negras não conseguirem superar as rivalidades internas dificilmente poderão formar regimes sólidos, íntegros, que superem a dicotomia entre ditadura ou anarquia tribal. A grande geração que conseguiu a independência, homens como K.Nkrumah, Jomo Kenyatta, Agostinho Neto, Samora Machel, Kenneth Kaunda, Julius Nyerere, Leopold Senghor ou Nelson Mandela estão mortos ou envelheceram. Nenhum dos sucessores desses grandes homens, têm conseguido o respeito da população e o carisma necessário para manter seus respectivos países unidos. Em muitos casos eles foram substituídos por chefes dominados por interesses localistas e familiares, de visão estreita, sem terem o sentido de abrangerem o restante dos seus cidadãos. É hora pois dos líderes africanos pararem de jogar pedras sobre o passado colonial e assumirem a responsabilidade pelo destino dos povos que ajudaram a emancipar.

A Influência do Negro na Cultura Brasileira
O entrecruzamento de africanos, portugueses e índios, entre os séculos XVI e XVIII, consolidou a estrutura genética da população brasileira. Toda a construção da economia litorânea no Brasil, inclusive o desenvolvimento de sua vida urbana, se deve ao mulato, mestiço de negro e ao branco.

Porém, a contribuição do negro para a cultura brasileira vai além da povoação e da prosperidade econômica através do seu trabalho. Vindos de diversas partes da África, os escravos negros trouxeram suas matrizes culturais e transformaram não apenas a sua religião, mas todas as suas raízes em uma cultura de resistência social.

Aqui vamos abordar rapidamente aspectos dessa influência, lembrando que ela é muito ampla e profunda e nem sempre percebida, de tão arraigada que está no nosso cotidiano.

Contribuição na linguagem
Os africanos, na ausência de uma unidade lingüística, já que provinham de diferentes povos, foram praticamente obrigados a criar uma em comum para que pudessem se entender.

A influência africana no português do Brasil, que em alguns casos chegou também à Europa, veio do iorubá, falado pelos negros vindos da Nigéria e notada principalmente no vocabulário relacionado à culinária e à religião e também do quimbundo angolano, em palavras como
caçula, cafuné, moleque, maxixe e samba, entre centenas de outros vocábulos.
Contribuição na religião
As religiões chamadas afro-brasileiras surgiram durante o processo de colonização do Brasil, com a chegada dos escravos africanos.

Na realidade, os cultos afro-brasileiros vêm da prática religiosa das tribos africanas. Por isso, cada uma tem a sua forma peculiar de chamar o nome de Deus, promover seus cultos, estruturar sua organização, celebrar seus rituais, contar sua história e expressar as suas concepções através dos símbolos.

Na tentativa de catequizar os negros, os europeus promoveram uma grande mistura que resultou nas hoje chamadas de religiões afro-brasileiras, como a Umbanda e o Candomblé, fruto da inter-relação de culturas.

Alguns povos bantos eram adeptos do candomblé e foram seus introdutores no país. Atualmente, existem poucas casas de candomblé puro no Brasil, concentradas principalmente na Bahia. Por outro lado, o candomblé de caboclo e a cabula, outra variante do candomblé, tornaram-se as raízes remotas do umbanda, o mais difundido culto afro-brasileiro, no Rio de Janeiro.

Para resistir, o negro buscou, através de formas simbólicas, alternativas que camuflassem seus deuses a fim de preservá-los da imposição da igreja católica. Assim, o sincretismo foi uma forma de defesa do negro e não a incorporação da religião negra à religião predominante.

Festa do Senhor do Bonfim, em Salvador: Nessa festa popular, misturam-se as heranças culturais dos escravos trazidos para o Brasil e as tradições religiosas dos colonizadores portugueses.
Em diferentes momentos da história, aos poucos, as religiões afro-brasileiras foram se formando nas mais diversas regiões e estados. É justamente por isso que elas adotam diferentes formas e rituais, diferentes versões de cultos.

A fé nos orixás se misturou à fé nos santos católicos e o resultado disso tudo é o jeito brasileiro de praticar a religião.
"Em que outro país o mesmo devoto se sente à vontade para jogar flores e perfumes no mar para Iemanjá, pedir namorado para Santo Antônio e ainda acreditar na vida após a morte do espiritismo?"

Contribuição na música e na dança
O negro deu seu ritmo à música brasileira. Também lhe deu nomes, como chorinho ou samba. Por isso se diz que a música popular brasileira nasceu na África.

A raiz negra está em tudo: no samba, no pagode, no afoxé, nas festas folclóricas como a do maracatu. Além dos ritmos, os africanos trouxeram também instrumentos, como o berimbau, a cuíca e outros instrumentos de percussão, como o atabaque o berimbau.

O samba era chamado pelos angolanos de semba. Esse gênero musical foi se transformando, ganhou novos instrumentos, chegou ao Rio de Janeiro e atualmente é característico de todas as regiões brasileiras.
Mistura de dança, luta e música, a capoeira também surgiu com os negros, que a utilizavam como arma de defesa. Durante a escravidão, reuniam-se em roda depois do trabalho para cantar, dançar, jogar capoeira ou reverenciar com música os seus orixás. Batiam palmas, batucavam, reviviam suas tradições. E assim a música negra se afirmava em meio a tanto sofrimento.

Os escravos misturavam instrumentos musicais, dança e luta, enganando seus Senhores de Engenho, que pensavam estarem eles apenas "dançando".

A capoeira sofreu repressão por grande parte das autoridades policiais e também os senhores de engenho perseguiam os escravos praticantes de capoeira, porque a atividade dava ao capoeirista um sentido de nacionalidade, individualidade e auto-confiança, formando grupos coesos e jogadores ágeis e perigosos e também porque, às vezes, no jogo, os escravos se machucavam, o que era economicamente indesejável.

O capoeirista era considerado um marginal, um delinqüente. O Decreto-lei 487 acabou temporariamente com a capoeira, mas os negros resistiram até a sua legalização.

Mas, as coisas mudaram em fins da década de 30 do século passado. Um capoerista chamado Manuel dos Reis Machado,
Mestre Bimba foi convidado por Juracy Montenegro Magalhães, a ir ao Palácio do Governo baiano. E agora? Mestre Bimba ficou assustado, achou que seria preso!
Para sua surpresa, o governador queria que se apresentasse com seus alunos para mostrar "a nossa herança cultural" para amigos e autoridades no Palácio do Governo.

Em 09 de julho de 1937, Mestre Bimba conseguiu o registro de sua Academia, a primeira reconhecida no país. Nesse ano, inicia-se a ascensão sócio-cultural da capoeira, que volta ao cenário cultural, estando presente na música, nas artes plásticas, na literatura, nos palcos...

Em 15 de julho de 2008 a capoeira foi reconhecida como Patrimônio Cultural Brasileiro e registrada como Bem Cultural de Natureza Imaterial.

E no período da escravidão? Será que havia artistas afro-brasileiros? Sim, e alguns até ficaram famosos, mas a maioria só foi descoberta muito depois de sua morte!

Um pouco depois do período escravocrata, conhecemos alguns músicos negros, pioneiros da chamada música popular brasileira, como José Antônio da Silva Callado e
Pixinguinha.
Muito depois, na década de 30, os artistas afro-brasileiros ganharam o seu espaço, sobretudo com o boom do rádio! E aí... milhões de pessoas ouviam os artistas negros.

Foi um tempo em que intelectuais e artistas começaram a reivindicar uma nova percepção de Brasil, como o país da miscigenação e da democracia racial.

Foi
Carmem Miranda, uma mulher branca, a eleita "Rainha do Samba". Não por acaso. Sabe-se que a artista divulgava a música de artistas negros, quando eles não conseguiam trabalho.
Sabe-se ainda, por sua insistência e influência muitos artistas negros saíram do anonimato para subir aos palcos, incluindo nesse grupo grandes nomes como
Dorival Caymmi e Sinval Silva, motorista de Carmem e autor do clássico "Adeus Batucada".
Mesmo assim, até o final da década de 50, foram poucos os artistas negros que conseguiram ter contratos assinados com gravadoras.

Nos anos 60, muitas composições sobre personagens negros eram racistas e ninguém reclamava. Apesar da ingenuidade de canções como "O teu cabelo não nega mulata (…) Mas como a cor não pega, mulata/ Mulata eu quero teu amor", está na cara o sinal de preconceito. "Mas como a cor não pega" fala da negritude como se fala de uma doença.

Gilberto Gil e Caetano Veloso, através de suas composições, colaboraram para que a força política do negro fosse mais reconhecida! Depois deles, vários artistas negros despontaram no hip-hop, rap ou samba com a deliberada intenção de despertar o orgulho negro entre os jovens.
Contribuição na culinária
É impossível falar da influência dos africanos sem lembrar a herança que eles deixaram para a nossa alimentação. Acarajé, mungunzá, quibebe, farofa, vatapá são pratos originalmente usados como comidas de santo, ou seja, comidas que eram oferecidas às divindades religiosas cultuadas pelos negros. Hoje, porém, são dignos representantes da culinária brasileira.

As negras africanas começaram a trabalhar nas cozinhas dos Senhores de Engenho e introduziram novas técnicas de preparo e tempero dos alimentos. Também adaptaram seus hábitos culinários aos ingredientes do Brasil. Assim, foram incorporados aos hábitos alimentares dos brasileiros o angu, o cuscuz, a pamonha e a feijoada, nascida nas senzalas e feita a partir das sobras de carnes das refeições que alimentavam os senhores; o uso do azeite de dendê, leite de coco, temperos e pimentas; e de panelas de barro e de colheres de pau. Você sabia que os traficantes de escravos também trouxeram para o Brasil ingredientes africanos? É o caso da banana, ícone de brasilidade mundo afora e da palmeira de onde se extrai o azeite de dendê.

Enfim... todos o pratos vindos do continente africano foram reelaborados, recriados, no Brasil, com os elementos locais. E haja criatividade e capacidade de improvisação! O dendê trazido pelos portugueses para queimar em lamparinas e iluminar as noites escuras do novo continente logo foi parar na panela das mucamas.
"Desde a África elas já sabiam que o azeite podia ser usado nas comidas".