Fazendo História

Primeira Estação:

Convido a todos fazer parte deste passeio pela Vida, já que para fazer história é preciso ter passado pela vida e deixado sua marca. Assim, desde filósofos, políticos e mártires até escravos, indígenas e o tocador de tuba no coreto fazem parte desta viagem que quer retratar a cultura costurada durante o tempo dos Homens.
Aproveitem da viagem!

domingo, 17 de junho de 2012

Análise documental: Discurso de Che Guevara, Havana, 1962



Os objetivos centrais desta análise devem ser: O desenvolvimento da capacidade de explicação, caracterização, conceituação e síntese histórica do aluno, que possibilite a construção de comentários históricos e reforcem conhecimentos já aprendidos. (SCHIMIDT e CAINELLI, p. 126)
Objetivos específicos: Desenvolver a compreensão dos fundamentos ideológicos da Revolução Cubana, despertando nos alunos a análise crítica de suas motivações e das tensões mundiais ocasionadas pela hegemonia norte-americana sobre os países da América Latina.
Metodologia de análise do documento.
Número de aulas: 3
Série indicada: 3º ano do ensino médio
(1ª aula) O professor deverá primeiramente fazer a introdução do conteúdo histórico da Revolução Cubana, com explanações a respeito das situações sociais da ditadura de Fulgêncio Batista e do imperialismo norte-americano em Cuba, que propiciaram o descontentamento da população cubana e a reunião de grupos oposicionistas, dos quais o que fora liderado por Fidel Castro e Che Guevara partiu para a luta armada, visando a tomada do governo cubano, que acontecera em janeiro de 1959.
Após o processo introdutório do conteúdo, o professor deverá levantar questões sobre a liderança deste movimento, buscando levantar idéias sobre o que os alunos sabem de seus lideres, Fidel Castro e Che Guevara; deverá então confrontar as idéias respondidas e solucionar problemas acerca dos mitos que envolvem estas figuras.
(2ª aula) Em seguida, apresentar o vídeo e as questões pertinentes à análise. Dividir a classe em grupos para que formulem as respostas.
(3ª aula) Pedir aos alunos que preparem um texto dissertativo sobre a análise desenvolvida, explicar também como devem proceder na introdução, desenvolvimento e conclusão.
A avaliação deste projeto de aula será feita a partir da entrega dos textos, conforme as questões debatidas e argumentadas segundo o objetivo inicial.
Introdução
Apresentação do documento: Natureza da fonte, datação, autoria, origem do documento, questões problemáticas e metodologia de análise.
Desenvolvimento
Explicação crítica do documento, com o retorno a análise documental na qual o aluno pode dar apoio a suas argumentações. Responder às questões propostas.
Conclusão
Explicitar a importância e o interesse no documento, discutir idéias nele contidas e abrir questões ou temas a elas relacionados. (SCHIMIDT e CAINELLI, p. 124)
Análise da Fonte
Natureza: Fonte oral em filmagem
Datação: junho/1962
Autor: Ernesto Guevara
Origem do documento: Discurso produzido pelo membro dirigente do governo socialista de Cuba pós-revolução, destinado a demonstrar o resultado e as propostas de governo para consolidar a revolução.
Questões problemáticas: Revolução Cubana, bloqueio econômico dos EUA, expulsão de Cuba como membro da OEA, aproximação de Cuba da URSS, projeto de extensão revolucionaria para América Latina.
Questões
1.      Quem é o autor do discurso?
2.      Como o autor se insere no contexto?
3.      Qual a situação histórica que discute?
4.      A quem se dirige no discurso?
5.      Quais são seus objetivos?
6.      Quais os fatos relatados?
7.      Quais as críticas sociais levantadas?
8.      Qual a ideologia presente no discurso?
9.      Como o documento apresenta a realidade? Por quê?
10.   Quais conhecimentos permitem compreender melhor o sentido do documento?

Texto de análise: Discurso de Che Guevara, Havana, 1962
Este trabalho direciona-se a análise documental do discurso de Ernesto Guevara (1928-1967) em Havana – Cuba, em julho de 1962. Trata-se de um documento de fonte oral, apresentado em forma de filmagem, disponível em http://www.youtube.com/watch?v=shh5S1RLG6Y.
O documento aborda questões problemáticas a respeito da organização governamental da política socialista em Cuba após a Revolução consolidada em 1959, sob a liderança de Fidel Castro e Che Guevara. Reflete também questões críticas à hegemonia capitalista norte-americana e dificuldades referentes ao estabelecimento do comunismo em Cuba com relação ao cumprimento de metas produtivas e à manutenção da economia do país que havia sido isolado na América depois do bloqueio econômico imposto pelos EUA.
Como método de análise, vimos a apresentação em vídeo do discurso de Che Guevara e através de pesquisas bibliográficas foram respondidas questões propostas para esta análise a fim da produção deste texto como resultado do trabalho desenvolvido.
O discurso analisado como documento histórico foi pronunciado por Ernesto Guevara, em Havana, Cuba, 1962. Sobre o autor, Che Guevara, como era chamado por seus companheiros de guerrilha, integrou-se ao grupo de exilados de Cuba, no México, em 1958, tendo como líder o advogado Fidel Castro, que organizava um levante com armas para depor o ditador Fulgêncio Batista e tomar o governo de Cuba.
A situação histórica em que este documento foi produzido remete ao período anterior à Revolução Cubana, e que tinha como governante o ditador Fulgêncio Batista, que através de relações arbitrárias com empresários norte-americanos e uma corrupção ativa em seu governo, não direcionava seu governo ao bem comum da população e sim aos interesses próprios da elite governamental do país, causando a formação de grupos opositores em prol de uma revolução para a tomada do governo cubano em nome do povo; o que realmente aconteceria em janeiro de 1959, quando o grupo de guerrilheiros liderados por Fidel Castro e Che Guevara, partiu dos campos de Sierra Maestra, ocupando territórios e agregando novos participantes da guerrilha, até alcançar Havana para a tomada do governo. Assim, desde a Revolução, de 1959, Cuba sofria embargos constantes na economia por parte dos EUA e seus aliados capitalistas, levando o país a contar cada vez mais com o apoio militar e comercial da URSS, quando em 1961, Fidel Castro declara que a Revolução Cubana era socialista. Como resultado disto, em 1962, Cuba é excluída da OEA, consolidando-se então o bloqueio econômico destes países a Cuba e determinando seu isolamento geopolítico na America Latina. Cuba desde então passa a conviver com graves problemas de recessão na economia e nas liberdades políticas, pois era instalada a ditadura comunista agregada ao projeto de expansão revolucionária de Che Guevara aos demais países da America Latina.
O documento aqui analisado é um discurso dirigido à população cubana com o objetivo de atingir emocionalmente seus concidadãos para que se mantivessem unidos em apoio à Revolução, destacando fatos que comprovassem que através do empenho de todos para o cumprimento das metas revolucionarias, o país alcançaria êxito, mesmo diante do bloqueio “Imperialista” norte-americano. Exaltava a Revolução de Cuba como exemplo de atitude para o bem comum de seus cidadãos e extensivo aos demais países da America.
Dentre os fatos relatados no discurso, Che procura prestar contas do governo cubano destacando o cumprimento das metas produtivas em Cuba, por ocasião de julho de 1962. Critica a posição ofensiva da hegemonia norte-americana que promoveu a exclusão de Cuba dos membros da OEA (Organização dos Estados Americanos) e a imposição do bloqueio econômico de seus países membros frente às relações comerciais com Cuba. Defende a luta para manter a revolução ativa entre os jovens de Cuba, que deveriam seguir o lema da campanha revolucionária: “ESTUDO, TRABALHO, E FUZIL”.
As críticas implícitas ao discurso de Che Guevara são basicamente referentes ao Imperialismo Norte-Americano, que através de pressões econômicas e ideológicas entre os demais países da America, conseguiu manter uma hegemonia desleal sobre os membros da OEA, o que levou Cuba a aproximar-se necessariamente dos países socialistas do oriente para não sucumbir ao domínio da dependência dos norte-americanos.
Neste discurso, Che Guevara desenvolve dois parâmetros ideológicos. O primeiro reflete a postura marxista em oposição ao imperialismo capitalista e em defesa dos ideais comunistas para a nação cubana, como o fim da propriedade privada, o controle estatal da economia e o estímulo ao cumprimento das metas de trabalho comunitário e partilhado entre cotas para a população cubana. O segundo parâmetro aponta para o incentivo à guerrilha, como forma de manter, através das armas, o controle revolucionário, expulsando e aniquilando seus opositores e visando estender a revolução socialista aos demais países da América Latina.
O documento apresenta a realidade de um acontecimento histórico com a liderança carismática de um homem que lutou pela Revolução e fez parte da organização do governo socialista cubano. A situação retratada no discurso realmente aconteceu, mas o ideal de estender a guerrilha aos demais países da América Latina não se efetivou.
Para compreender o documento é necessário conhecer a biografia de Che Guevara, a história da ditadura de Fulgêncio Batista, a organização da guerrilha em Sierra Maestra, a estrutura do governo comunista de Fidel Castro, a pressão da hegemonia norte-americana sobre os demais países da América e as ideologias conflituosas do socialismo e do capitalismo durante a Guerra Fria.
O documento aqui analisado revela sua importância na aproximação do conteúdo em questão, ao refletirmos sobre os objetivos, críticas e ideologias, nele inseridos, são desvendados contextos de vivencias sociais e estratégias políticas do período.
Falamos de um período de tensões sociais que são reflexos da Guerra Fria: momento histórico de divergências ideológicas entre o capitalismo e o socialismo, uma guerra que envolvia pressões econômicas e políticas entre os países membros de ambas as partes.
Dentro deste contexto, Cuba se apresenta como única nação a romper com a hegemonia capitalista dos EUA na América, assumindo a postura socialista de governo, tendo como consequência seu isolamento político e econômico entre as nações ocidentais, mas persistindo em sua luta revolucionária e ditatorial dentro do modelo comunista de organização estatal, que desencadeou uma vivência de duras pressões políticas e recessões econômicas que fizeram do país uma região de centralismo estatal, repressão ideológica e racionamento alimentar responsáveis pela criação de um mito do “terror comunista” nos países capitalistas, que sobreviveu assim durante todo o período da Guerra Fria.
Pelo discurso de Che Guevara, apresentado nesta aula, verificamos a outra face deste contexto social, que retrata o lado socialista do governo cubano, em luta pela manutenção da revolução dentro dos propósitos de igualdade social e trabalho comunitário e partilhado, a educação como princípio do crescimento econômico e social, independente da dominação estrangeira, além de promover a defesa destes ideais através do armamento militar.
Este trabalho suscita ainda novos questionamentos a respeito dos caminhos tomados por Fidel após a saída de Che das áreas de comando do governo cubano, quando este parte em luta guerrilheira pela América Latina, do resultado de carência social disseminado entre a população cubana durante longos períodos e da situação atual em que se encontra Cuba no século da globalização. Por isso, podemos dizer que este trabalho não se encerra aqui, mas subentende que a história das revoluções e das lutas sociais permanece como amálgama da história da humanidade. 



REFERÊNCIAS
SILVA, Fábio Luiz da. História Contemporânea II. São Paulo: Pearson. Prentice Hall, 2010.
SHIMIDT, Maria Auxiliadora e CAINELLI, Marlene. Ensinar História. As fontes históricas e o ensino da Historia. Cap. 7. Editora Scipione, São Paulo, 2010.

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