Fazendo História

Primeira Estação:

Convido a todos fazer parte deste passeio pela Vida, já que para fazer história é preciso ter passado pela vida e deixado sua marca. Assim, desde filósofos, políticos e mártires até escravos, indígenas e o tocador de tuba no coreto fazem parte desta viagem que quer retratar a cultura costurada durante o tempo dos Homens.
Aproveitem da viagem!

domingo, 9 de maio de 2010

Historiografia - Perspectivas Historiográficas do Séc XX


Partindo das perspectivas historiográficas destacadas no texto selecionado para compor este trabalho: Como se escreveu a história do Brasil nas primeiras décadas do século XX, buscarei levantar questões que tiveram importância dentro do contexto histórico e social a qual se inseriam. Para tal, tratarei de algumas analises de autores e das temáticas defendidas e estudadas por estes durante o século XX no Brasil.

Alem do texto inicial, que trata de métodos historiográficos aplicados por Afonso de Taunay e Capistrano de Abreu, pretendo também ressaltar um certo reflexo evolucionista da historiografia brasileira, levantando temáticas que foram importantes dentro da História nos diferentes momentos do século XX.

O texto de Karina Anhezini, citado na introdução, nos leva a pensar no Brasil, em meados de 1920, que teve como autor exemplar da historiografia, Afonso de Taunay, que com a ajuda do mestre Capistrano de Abreu, abriu o campo das abordagens históricas para níveis mais centrados em enfoques regionais e nacionais, concentrando-se em grande parte também nas ações cotidianas e comportamentais do período elegido para o estudo: o movimento bandeirante que impulsionou a expansão territorial dos sertões.

A corrente historiográfica brasileira até aquele momento, levava a cabo grande influencia da herança cultural ibérica na contextualização dos objetos de estudos dos historiadores. Assim, autores de história até esta época olhavam para os estudos do Brasil sob uma perspectiva essencialmente eurocêntrica, e também sob uma função político-administrativa e biográfica. Além desta tendência elitista e positivista da produção historiográfica, temos os registros principalmente de ascendência estrangeira, que deixava de lado o envolvimento destes autores com a própria terra e cultura estudadas.

Neste período devemos destacar a importante contribuição de Afonso de Taunay, que se entregou profundamente ao estudo do movimento das bandeiras desde São Paulo do século XVII. Ao se aventurar nesta nova perspectiva, Taunay teve de buscar novas fontes materiais das quais pudesse desvendar tal momento, destas utilizou-se da documentação guardada pelo Arquivo Público do Estado e pesquisas locais.

Neste trabalho, Afonso de Taunay tinha o interesse maior na reconstituição do passado o mais fielmente possível, mas para isso buscou entender este passado na veia dos costumes, do cotidiano enfim, na vida dos homens que viveram naquele período. Desta forma sua intenção se distanciava da historiografia factual e daquela “história das batalhas” e de seus heróis, privilegiando antes a história dos costumes.

Dentro desta perspectiva o autor teve de se ocupar da documentação disponível com muito cuidado, pois nem tudo o que foi documentado era realmente verossímil, por isso fazia parte de seu intuito uma atitude crítica que entendia como uma profissão de fé de responsabilidade de todo historiador.

Depois deste trabalho estavam lançadas as bases da disciplina histórica, que seria decisiva para os novos rumos da escrita da historia do Brasil.

Ainda trataremos aqui, de forma sintética, de outros trabalhos de suma importância na historiografia brasileira, para revermos os conceitos que tiveram destaque em cada momento e a motivação que levou seus autores a levantarem estas temáticas.

Em primeiro lugar, temos de ressaltar a grande contribuição deixada por Gilberto Freyre, em “Casa Grande e Senzala”, que também deixou de lado as preocupações do determinismo e evolucionismo para dar maior atenção à cultura e à relatividade de valores, em conformidade com os princípios recém lançados na França pela Escola dos Analles (1929), que buscava valorizar aspectos da história das mentalidades e a renovação das fontes de pesquisa.

Neste trabalho, Freyre tentava justificar a conquista e ocupação portuguesa do Brasil, além de revalidar a necessidade da escravidão dentro do sistema colonial. Ainda assim seu intuito maior foi ressaltar, através de descrições do cotidiano nas fazendas, como foi de grande relevância a presença dos negros neste período histórico e a contribuição por estes deixadas para a cultura, economia e miscigenação do país.

Era uma preocupação iminente neste momento, para o autor, a afirmação da identidade brasileira pautada no bom aspecto da miscigenação, uma vez que os negros, desde a Abolição, precisavam integrar a identidade social do país. Desta forma, Freyre utilizou-se de fontes características do indiciarismo para realçar esta visão que reconhecia a importância dos escravos na vida dos senhores e na formação cultural mestiça do Brasil.

Um segundo autor a ser destacado é Sérgio Buarque de Holanda, com seu retrato de São Paulo em vias do desenvolvimento industrial e urbano, deixado em seu livro: “Raízes do Brasil” de 1936.

Neste trabalho, Sérgio Buarque fundamenta seus estudos com base no historicismo, de estrutura teórica dominante do pensamento alemão, o qual trata da compreensão dos fenômenos históricos considerando o ideário da situação em que ocorreu.

Em Raízes do Brasil, este autor preocupa-se em entender a gênese da sociedade brasileira, buscando as origens e características da formação cultural e social do país. Atribui a tal formação: raízes que provem do pensamento da metrópole portuguesa. Dizia assim que o português não tinha apreço ao trabalho, era mais dado às aventuras que a uma organização social produtiva, o que ao final foi passado aos brasileiros de origem portuguesa que não foram capazes de uma organização política e social sustentável para o Brasil pós queda das oligarquias. Estas por fim, foram as raízes deixadas pela colonização portuguesa neste país dos trópicos.

Num terceiro momento vamos tratar de outro autor que deixou nova contribuição para historiografia brasileira: Caio Prado Junior com sua obra, Formação do Brasil Contemporâneo, que trazia a noção de “processos históricos" com forte influencia do pensamento marxista a respeito do materialismo histórico.

Neste contexto, Caio entendia que a história do Brasil teve uma carência na formação de um mercado interno organizado, causado pela economia anteriormente voltada exclusivamente ao mercado externo e dependente de uma metrópole preocupada principalmente com a exploração econômica desta colônia. Também acrescenta que os sujeitos da história do Brasil não se reduziam às elites, mas incluíam as classes sociais em luta, que podiam ser verificadas nos movimentos sociais dos séculos XVIII e XIX.

Era necessário entender estes mecanismos sociais, buscando desvendar a “face oculta”, dos excluídos, dos trabalhadores que fizeram parte da formação da nacionalidade brasileira. Ainda assim, o autor destaca o fato de que não houve realmente uma evolução de uma economia colonial para uma economia nacional, daí surgindo vários problemas de ordem social na formação da identidade brasileira.

Numa síntese do trabalho destes quatro autores, procurei fazer uma viagem pelo pensamento historiográfico brasileiro do século XX, lembrando que não finalizam aqui tais correntes historiográficas, pois vários autores podem ainda ser destacados, mas aqui tive o intuito de ao apontar tais obras significativas para a história do Brasil para que pudéssemos ver como o interesse da história pode ser mutável e renovável segundo a instância do projeto de estudo o qual se insere.

A historiografia é constituída aos poucos e está em pleno movimento, explicando porque a historia não é uma disciplina que propõe a provas definitivas, mas antes disto, fundamenta-se no debate crítico de suas temáticas.

Um comentário:

  1. Olá, Karina! Ao acessar a página, pensei que estivesses a falar de um interregno importante na produção historiográfica brasileira, do qual a maioria dos autores fogem: o espaço das três primeiras décadas do século XX. Geralmente, o período é tratado como uma extensão da historiografia oitocentista, desprezando-se contribuições importantes, como a dos modernista e a do Manoel Bomfim. Freyre, Holanda e Prado são autores pós-anos trinta, um outro contexto, em que a história já era recepcionada de forma distinta no Brasil. Que tal pensar naquela lacuna apontada no início?

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