Fazendo História

Primeira Estação:

Convido a todos fazer parte deste passeio pela Vida, já que para fazer história é preciso ter passado pela vida e deixado sua marca. Assim, desde filósofos, políticos e mártires até escravos, indígenas e o tocador de tuba no coreto fazem parte desta viagem que quer retratar a cultura costurada durante o tempo dos Homens.
Aproveitem da viagem!

domingo, 16 de maio de 2010

O Documento como ferramenta da História







Partindo-se do princípio de que a história se constrói através de pesquisas documentais, vamos abordar as temáticas da construção do conhecimento histórico em sala de aula, criando condições de dinamismo nos estudos a despertar do interesse para a pesquisa histórica.

Neste trabalho serão utilizados como referencia de análise os textos de Ernesta Zamboni – Representações e Linguagens no Ensino de História e de Jairo Nascimento - O Uso de Documentos e a Construção do Conhecimento Histórico e ainda será feita uma análise documentada da imagem de Jean Baptiste Debret como exemplo para a utilização deste documento para atividades de pesquisa e formulação de conceitos em sala de aula.

A História é feita a partir de representações humanas, desta forma o objeto da história está nos registros coletados das ações humanas, estas representações do homem são expressas através de linguagem comunicativas, como por exemplo, a fotografia, o desenho, os textos escritos, os filmes, pinturas, construções arquitetônicas, esculturas, documentos de arquivos, enfim todos estes registros são materiais disponíveis para a construção do conhecimento em sala de aula.

Neste sentido, Ernesta Zamboni em seu texto “Representações e Linguagens no Ensino de História”, nos leva a pensar sobre os parâmetros da cultura no ensino de História, considerando que as relações sociais dos homens em conjunto com as esferas de seu imaginário serão a base para a composição da história cultural e das mentalidades.

Transpondo nosso olhar aos dias atuais vemos uma invasão de informações produzidas pela indústria cultural e esta é uma realidade da qual podemos utilizar, como materiais didáticos, que contribuem com a aproximação ao universo cultural dos alunos.

Outro recurso de material são os livros paradidáticos que teriam a possibilidade de uma aproximação das temáticas interdisciplinares, mas como aponta Ernesta Zamboni, ainda permanecem restritos à analises de sociologia e economia.

Vamos abordar agora questões referentes ao documento e ao fato histórico. A cerca deste último, podemos entender a formação do conhecimento histórico dentro do patamar das ações humanas que estão inseridas num contexto emocional cheio de contradições. Esta cultura social relaciona-se aos comportamentos humanos que estão ligados a uma ideologia como parte de um sistema de valores e tradições.

O Historiador Jacques Le Goff nos fala a respeito do Documento, dizendo ser impossível restaurar o real já vivido, assim este é algo que tem sua característica intencional, como produto de uma orientação segundo o contexto histórico no qual foi produzido, por isso é sempre passível de análise e crítica.

Os recursos usados como materiais didáticos também fazem parte de representações humanas, como no caso da fotografia, que é direcionada sobre uma linguagem particular e cheia de significados estabelecidos entre o fotografo e o objeto de sua imagem, seguindo os preceitos de uma ideologia para a criação de uma mensagem intencional.

Como exemplo deste “olhar” do fotógrafo, Ernesta Zamboni faz uma análise dos desenhos de Debret à cerca dos indígenas brasileiros. O olhar registrado revela a face da realidade européia, que privilegiava parâmetros desta conduta em detrimento dos valores indígenas.

Os produtos culturais estão inseridos em contextos sócio-culturais específicos, assim como a construção do conhecimento em sala de aula reflete uma realidade do universo cultural dos alunos, e este conhecimento também está ligado ao valor representativo de imagens e palavras do imaginário do educando.

Aqui, ficamos diante de uma questão a ser desenvolvida nas escolas, no que se refere ao distanciamento da fala do professor, do livro didático e do universo cultural dos alunos. Ernesta nos alerta para a necessidade de uma aproximação dos alunos, para que o professor possa desvendar este seu universo e identificar suas razões a fim de propor pesquisas que possam ampliar suas noções de conhecimento.

Outro assunto neste contexto abordado é quanto à tradição oral enquanto manifestação criativa de histórias do cotidiano, que demonstram as expressões culturais de um povo.

Como exemplo desta área do conhecimento, temos as fábulas e contos populares que também podem ser usados no ensino de história como representações culturais das camadas populares que se utilizam destas tradições orais para transmitirem sentimentos, revoltas e valores morais de sua comunidade.

Quanto à linguagem literária, ficamos diante de outro problema, quando não há uma atualização das palavras, assim tornando-as sem sentido para os alunos. Como exemplo disto vemos o uso das palavras ‘Inconfidência’, ‘Bandeirantes’ e ‘Bloqueio Continental’, que são termos históricos que de certa forma perderam seu significado ao longo dos tempos e por isso pedem uma explicação competente para que haja um melhor aproveitamento na aprendizagem.

Há inúmeras linguagens para a produção e compreensão do conhecimento histórico. Hoje estamos diante de um processo de interação com as mídias informativas de massa, assim nos vemos frente a um impasse de tirar os indivíduos de uma atitude passiva diante destas mídias e de nos aproveitarmos destas informações com discernimento crítico.

Ernesta então finaliza seu estudo dizendo que ao professor cabe a função de mediador analítico destes processos de comunicação, a fim de despertar nos alunos a qualificação de indivíduos críticos e conscientes.

O segundo bloco deste estudo se refere ao texto de Jairo Carvalho do Nascimento em “O uso de documentos e a construção do conhecimento histórico”. A análise feita por este autor trata da necessidade de dinamismo no ensino de história com o objetivo de envolver os alunos na construção do conhecimento histórico, assim o uso de documentos é um bom recurso para o estímulo a aprendizagem.

A cerca do documento histórico podemos dizer que a sua análise faz parte do ofício do historiador, sendo que tais fontes referem-se a qualquer registro humano passível de interpretação social: escritos, artigos visuais, orais, monumentos, que expressam o contexto histórico de uma época revelando seus sentimentos, costumes, valores e ideologias.

O trabalho com documentos em classe permite aos alunos a compreensão dos sujeitos históricos e sua formação social, pois terão a oportunidade de confrontar estes discursos e produzir suas próprias opiniões e conclusões.

Neste sentido, é preciso desenvolver no aluno a arte da pesquisa para que ele possa interpretar suas linguagens, assim os estudantes participarão ativamente do processo de aprendizagem. Atividades como estas também contribuem para o incentivo a preservação do patrimônio histórico num sentido de cidadania.

Na leitura do documento como reflexo de uma sociedade é preciso que haja uma análise crítica deste material, através de interpretações e questionamentos segundo orientação objetiva do professor. Este princípio faz parte de uma metodologia que leva a reconstrução do conhecimento histórico, uma vez que as fontes estudadas também foram compostas em determinado momento e seguindo certas intenções.

Para entender este processo, o professor Jairo propõe um plano didático para o uso de documentos em sala com o fim da análise e comparações conclusivas de 4 momentos históricos registrados pelas fontes que tratam da temática do escravismo: O 1º documento foi retirado do Livro de Eclesiastes, da Bíblia Sagrada. Era utilizado pela Igreja para instruir os fieis quanto aos preceitos da vida cotidiana e de seu comportamento para com os escravos. O 2º documento é originário do Jurisconduto Romano que pautava sobre a conduta dos amos junto a seus escravos. O 3º documento foi feito por um membro da Companhia de Jesus que descrevia a forma com que o senhor de engenho deveria proceder com seus escravos. O 4º documento é um texto jornalístico atual que alerta para a questão da “Nova servidão”, que ocorre em certa fazenda utilizadora do trabalho compulsório e forçado de trabalhadores rurais.

A partir de tais documentos o professor deve fazer um roteiro de perguntas que orientem o processo de análise dos alunos que devem fazer uma descrição destes materiais além da elaboração de comentários comparativos sobre a organização social nestes momentos históricos. Deste exercício, os alunos deverão ser capazes de verificar a construção dos discursos e dos mecanismos ideológicos que justificam a escravidão, além de identificarem na realidade atual situações de transformações sociais e de permanências também.

Após a análise do contexto e das metodologias para o uso dos documentos em sala de aula que foram destacados nos textos acima mencionados podemos concluir que a construção do conhecimento histórico é feita através da pesquisa de documentos, que podem ser resgatados pelos diversos registros de expressões humanas deixados como legado para a história ao longo de gerações.

Assim, sobre a perspectiva atual da Nova História, que busca resgatar a cultura das sociedades expressando seus valores e costumes, o documento pode e deve ser usado como ponte para o desenvolvimento crítico dos alunos além de contribuir para a formação de seu conhecimento.

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